domingo, 8 de agosto de 2010

Lembrando o Ventriloquo Acy Portella

Tito Ferro, morador da cidade de Cerrito (RS), lembra de Acy Portella, na gravação ele fala sobre o modo que Acy se apresentava, os bonecos Picolé e Margarida e o fascínio pela arte do ventriloquismo. Nosso agradecimento especial para Bruno Farias pela valiosa colaboração.


quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Homem de Múltiplos Talentos

Além de ser um artista brilhante no palco, demonstrando com grande competência a arte do ventriloquismo, o ilusionismo e o canto, Acy Portella também tinha outros talentos.

Ainda bem jovem e com muita facilidade para o desenho, antes de servir o exército, seu primeiro emprego foi como assistente de um pintor que fazia grandes painéis em Pelotas. Anos depois, já como showman, Acy fazia os próprios cartazes de seus espetáculos usando cartolinas, pincéis e tintas. Os cartazes eram feitos em pouquíssimos minutos, com muita habilidade. Até mesmo as cortinas que ele usava nos espetáculos também eram pintadas por ele, geralmente com motivos florais.


Houve uma época em que depois de ter sofrido um pequeno acidente, Acy teve que ficar um bom tempo sem poder se apresentar. Aproveitou o período para pintar telas, principalmente paisagens como a mostrada acima.

Decorava as paredes dos quartos dos seus filhos usando moldes vazados desenhados por ele mesmo. Criava brinquedos para eles também como aquele em que um pequeno boneco faz malabarismos sustentado por dois pauzinhos.

Extremamente caprichoso, jamais saía sem estar com a gravata devidamente arrumada e os sapatos bem lustrados. Arrumava e concertava os móveis de casa, muitas vezes fazendo serviço de estufaria. Até mesmo a jardinagem não era esquecida por ele.

Excelente cozinheiro, primava muito por uma mesa bem servida, o que costumava dizer ser fundamental antes de uma refeição.

Tinha também talento para o urbanismo, bolando e traçando soluções para pequenos problemas urbanos, os quais levava para a câmara dos vereadores, os quais muitas vezes aprovavam suas idéias, como a primeira linha de ônibus para o bairro em que morou por último. Acy traçou todo o itinerário que é seguido até hoje.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

O Começo

O circo havia chegado na cidade. A repercussão era geral, todos falavam nas grandes atrações que então seriam apresentadas ali. O poder do circo era incontestável. Não poderia haver atração que encantasse mais a população que o circo.
Certa tarde, motivado pela curiosidade, um menino muito hábil e ágil conseguiu passar através da lona, sem que ninguém o visse. Foi como se um universo se materializasse diante dele: malabaristas, acrobatas, mágicos... e é claro, os palhaços! Todos ensaiando naquela miscelânea de movimentos e numa confusão bem organizada. Esse mundo novo fascinou o menino que declarou para todos ao voltar para casa: - É isso o que eu quero!

Assim começa a trajetória artística de Acy Portella, grande artista, ventríloquo, ilusionista, músico, humorista, pintor, desenhista... nascido em Passo dos Carros, interior de Pelotas há exatos 100 anos atrás (21 de Setembro de 1907). Acy Portella morou em Pelotas até 1950 e depois veio morar em Rio Grande. Ficou muito conhecido na zona sul e se apresentou por todo o Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina. Foram quase 40 anos de carreira encantando o público com seus números e a presença "viva" dos bonecos juquinha, picolé, Margarida, Tibúrcio...

Este blog tem a missão de contar às novas gerações a trajetória de Acy Portella e perpetuar um pouco de sua arte, através de fotos, fatos e histórias, não necessariamente na ordem cronológica. Infelizmente nenhum de seus espetáculos foi filmado, mas muitas pessoas ainda lembram da inegável qualidade das apresentações que tanto divertiram o público de várias idades (e de várias classes sociais também).

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Espetáculo no Povo Novo

"Distinta e culta platéia..." anunciava Acy Portella no início de mais um espetáculo. O salão "Flor do Povo" estava repleto, muitas crianças, adultos, agriculturores, pessoas simples. A safra de cebola, que havia sido farta, já havia sido vendida. Agora o povo queria diversão. Era verão e a noite estava bem agradável. O tratamento especial à platéia era típico de Acy, fosse sua apresentação em um grande teatro ou num salão de alguma zona rural.

As crianças ficavam vidradas vendo os bonecos. O casal de caveirinhas estava em cena. A música que cantavam dizia assim "Duas caveiras que se amavam... e na porta do cemitério a meia noite se encontravam..." Logo aparece Picolé (o boneco pretinho) que contracena com as terríveis criaturas: "Me respeite Picolé" diz uma das caveiras. "Mas você nunca se importou comigo" respondeu o boneco rebelde. " Não faz assim Picolé". Assim seguia a discussão entre os personagens. Dona Antônia, que estava na platéia, incrédula com os movimentos de Picolé disse: "Mas como esse menino consegue torcer tanto o pescoço?" As pessoas ao seu lado acharam graça da ingenuidade de Dona Antônia que pensou que dentro dos bonecos haviam crianças.

O "galã" do espetáculo era o boneco Gilnei. Acy anunciava sua apresentação: "Cantarás Senhor Gilnei?" - "Cantarei Senhor Acy" O boneco então começava a cantar uma paródia de "Noite cheia de estrelas" de Cândido das Neves cuja letra começava assim" Noite Alta , céu risonho a quietude é quase um sonho..." Gilnei cantava " Noite alta, céu risonho, se tens fome como um sonho"... A platéia adorava! Outra música que Gilnei também cantava era "Jurema", um samba que dizia: " Ainda que estejas no céu querida Jurema, hei de sempre te amar... nada existe no mundo que venha nos separar...nas letras da minhas estrofes eu depositei o que a alma sentia... e minha alma que sofre escreveu minhas rimas pensando em ti.."

Gilnei fazia o maior sucesso. Para a boneca Rosinha ele cantavava "O que que a baiana tem" Aliás, Gilnei tinha um sotaque todo peculiar, ao invés de dizer "tem" ele dizia "taim". Na música "Rasguei Teu Retrato", também de Cândido das Neves, há uma parte que diz "eu ontem rasguei teu retrato" e o boneco cantava "eu ontem rasguei teu retrati".

Mais uma vez havia a participação dos músicos do Povo Novo. Eram agricultores que de vez em quando se reuniam para tocar alguma coisa. Começaram a tocar a marcha fúnebre em ritimo de samba. Moradores locais também participaram num show de calouros, especialmente as moças. Ganhavam pequenos prêmios como sabonetes, pasta de dentes, perfumes. Era a década de 1940, todos os verões lá estava Acy Portella para apresentar seu espetáculo no Salão do Povo Novo.

Numa dessas apresentações conheceu o escritor Arnold Lopes Duarte Coimbra. Arnold havia publicado os livros "Bazar de Emoções" e "Folhas Mortas" na década de 30,passava sempre os verões no Povo Novo com a família e sempre assistia os espetáculos de Acy. A empatia foi imediata, tanto que Acy declarou: "É a primeira vez que encontro aqui alguém com tanto nível cultural!". Era o início de uma grande amizade.

(Nossos gradecimentos ao grande cartunista Arnold Coimbra pelas informações)

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Revolução de 1930

Os tiros ecoavam pelas ruas. Todos trancados em suas casas. O clima era de verdadeiro pavor nas proximidades do quartel. Os rebeldes continuavam resistindo. De arma em punho, o soldado Acy se protegia na entrada de uma casa na rua Moron. Olhou para a direita e decidiu se jogar num buraco do esgoto. Carlota, sua irmã que já morava em Rio Grande, por acaso bem perto dali gritou: "Vem, te esconde aqui dentro de casa"! Acy respondeu: "E tu acha que eu vim de Pelotas pra lutar aqui e vou ficar escondido dentro de casa?"

Inicialmente as tropas de Pelotas, favoráveis a Vargas conseguiram invadir o quartel. Acy foi um dos primeiros a entrar. Porém tiveram que recuar devido ao tiroteio. No final das contas, os renegados se entregaram. Por bravura Acy foi promovido a sargento... Era 1930 e Acy Portella estava tendo uma bem tumultuada passagem pela vida militar.

Ainda nessa época, Acy e a tropa toda viajaram até o Rio de Janeiro de trem para lutar na revolução, mas como a viagem era longa, ao chegar, as coisas já haviam se acalmado. Além das belezas naturais da cidade, o jovem Acy teve o privilégio de ver o Cristo Redentor ainda em construção.

Durante toda a caserna foi muito popular entre seus colegas pois já fazia pequenas apresentações para eles. O pessoal juntava as cadeiras para assistir, o comandante do batalhão era seu fã declarado. O showman (expressão que ainda não se usava na época) estava surgindo.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007